quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Plástica do Plástico.... Obras ganham dimensão cósmica no Misc, em individual do artista Márcio Aurélio


Luiz Fernando Vieira
Da Redação 

 

O artista plástico Márcio Aurélio dos Santos ocupa boa parte do Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (Misc) com sua arte baseada no reaproveitamento de material e cheia de simbolismo. Em A Plástica do Plástico ele mostra que não só este, mas vários outros suportes podem receber arte e ganhar uma nova dimensão de importância. Paralelamente, o museu apresenta vídeos temáticos que remetem a questões ambientais e uma exposição que conta a trajetória do radialista Alves de Oliveira.
A individual consegue ser bastante plural, como o é este artista que desde o início decidiu que não queria ficar preso à tela. "Eu comecei aqui no final dos anos 1970, pintando lendas indígenas, mato-grossenses. Aí passei para o Cerrado. Mas sempre quis trabalhar em outros suportes. Nunca gostei muito da tela. Ele me aprisionava", diz ele. Márcio Aurélio lembra que nunca teve dinheiro para gastar com material. Se tivesse que depender de comprar telas teria pintado muito menos. Certamente não seria o artista que é hoje. "Esses suportes me deram condições de continuar. Eu sempre gostei de trabalhar com as coisas que estão ao meu alcance".
A Plástica do Plástico mostra essa dimensão. Boa parte dos trabalhos é composta de pinturas feitas sobre banners descartados. "Eu comecei a pegar e interferir nos cartazes", explica, e o resultado pode ser conferido já no acesso à parte de cima do Misc. Ali ele colocou dois em que reproduz imagens de filmes conhecidos. "O Museu é de Imagem e de Som, cinema igual imagem", brinca.
Na primeira sala, o artista apresenta trabalhos em que faz experimentações com material reciclável de todo tipo, restos de garrafas pet, tampinhas de refrigerante e outros tipos de embalagens, como sacos de supermercado. Ali é possível ver o resultado de uma tema que vem trabalhando há algum tempo, que é "Geografia Sagrada do Meu Eu". Cria uma simbologia que alia criações próprias com outras que são conhecidas há milênios. "O ser humano não consegue viver sem o símbolo", garante. São trabalhos bastante enigmáticos.
Noutra sala, vem com a modernidade, decodificando as coisas, procurando um visual mais limpo. Se chama "Sala dos Códigos". Mais uma vez se vale dos banners, só que aplica pedaços de latas usadas e cria visuais que podem lembrar tanto o Código Morse como o I-Ching. Não usa mais cola quente e costura com arame. Destaque para um totem feito com latas de tinta repleto de símbolos.
Numa terceira mistura símbolos sagrados, que podem ser católicos ou africanos. Por exemplo, num totem aparecem Oxum e Ogum (orixás feminino e masculino). Um banner apresenta o Oroboros (serpente que come o rabo e significa eternidade), que "viaja" da África para o Brasil trazendo um instrumento de Ossain, um orixá africano que toma conta das folhas, do verde. Há outro banner que traz um peixe, o símbolo do Cristianismo, e latas trabalhadas que viram relicários multicoloridos dedicados aos mais variados santos e até Jesus Cristo. Encanta a forma como ele recorta o metal para seguir o contorno dos desenhos ou para dar um efeito diferente, recriando estrelas. A mesma lata recortada aparece ainda aplicada sobre a madeira para criar quadros.
Para completar, uma última sala promove a volta de Márcio Aurélio aos velhos tempo do Cerrado. Só que ele é aplicado em banners e latas, ou pedaços de metal fixados sobre madeira. Tem até um banco feito de madeira e latas e um trabalho que mostra o Cerrado inspirado na arte milenar chinesa. "É uma fase atual, o Cerrado Oriental, meu mais novo estudo. Vou ver se entro mais na China, vou para a Índia", planeja. "Nós seres humanos temos quer reciclar a cada momento, a cada dia para melhorar", argumenta o pintor, um dos principais nomes nesse tipo de arte no Estado.
O ator Ivan Belém, diretor do Misc, justifica a exposição: "o Márcio Aurélio tem um trabalho muito bom com um recorte ambiental e o Museu quer também preservar a memória e discutir o presente". E destaca ainda a exposição dedicada a Alves de Oliveira, que é com acervo do museu. "A gente faz esse link passado e presente. Vai homenagear a questão do lazer cultural, da cultura. O Alves traz muito isso, foi um grande animador cultural da cidade. A idéia do Misc é popularizar esse acervo audiovisual que tem", diz Ivan, lembrando que a curadoria é de Caroline Araújo.
Serviço - As exposições serão abertas hoje, às 20h, e ficam em cartaz até 2 de agosto. Às quintas-feiras, às 20h, tem o Curta Misc, mostra de vídeos com temáticas ambientais. 
Informações pelo telefone 3617-1288.

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